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terça-feira, 29 de outubro de 2013

CONTANDO HISTÓRIA...

De vez em quando, tenho contado alguns fatos curiosos, engraçados ou importantes da história do Flamengo.

Todos tirados do livro "100 anos de bola, raça e paixão", que escrevi com os companheiros Celso Júnior e Arturo Vaz.

Esta é sobre o nascimento da rivalidade com o Vasco.



Encarando o Vasco. Em 1922, o Flamengo manteve o time do ano anterior. O campeão do Centenário da Independência do Brasil foi o América, com apenas um ponto de vantagem sobre a os rubro-negros. Antes do começo do campeonato, porém, foi disputado mais uma vez o Torneio Início, que já se tornava tradição. Era uma forma de apresentar as equipes que iriam disputar o campeonato e atrair a atenção do público para o futebol.
E foi exatamente nesta competição, no dia 26 de março, que o Fla encarou o Vasco da Gama pela primeira vez. O Rubro-Negro ganhou por 1 x 0, gol de Segreto. Além de vencer o Vasco, o Flamengo derrotou o Fluminense e o América, ambos por 1 x 0, e o Andaraí por 2 x 0, conquistando mais uma vez este torneio.
            Em 1923, o fato mais marcante do Flamengo foi ver nascer a grande rivalidade com o Vasco da Gama. Um dos motivos foi que os clubes de futebol eram todos amadores e era terminantemente proibido pagar a seus atletas, o que caracterizaria o profissionalismo. Portanto, os jovens jogadores dos clubes cariocas tinham seus afazeres, principalmente com os estudos, já que a grande maioria pertencia à famílias de posses. Também passavam horas nos bares e restaurantes da cidade, sempre dormindo tarde. Devido a isso, não podiam treinar intensamente ou ter tempo suficiente para se dedicar somente ao esporte.
             Os comerciantes lusitanos perceberam que muitos daqueles que não eram de famílias tradicionais e que viviam com certa dificuldade, passavam muito tempo jogando futebol e possuíam, por isso, um porte atlético invejável e um excelente preparo físico. Pois bem, começaram a recrutar esses jovens e pagavam uma quantia em dinheiro para que treinassem. “Oficialmente” os jogadores vascaínos eram simples empregados dos armazéns dos portugueses. 
O Flamengo estreou no Campeonato Carioca daquele ano exatamente contra o Vasco da Gama, no dia 19 de abril. Junqueira, cobrando pênalti, abriu o placar para os flamenguistas, que dominaram o primeiro tempo. Porém, como era de se esperar, o time caiu de produção no segundo tempo e o Vasco, aproveitando-se do declínio físico do adversário, virou o jogo para 3 x 1 com gols de Cecy aos 20 e 30 minutos e Negrito aos 37 minutos.
            No dia 8 de julho, os cruzmaltinos, enfrentariam o Flamengo. Por incrível que pareça, todos os torcedores dos outros times vestiram a camisa do rubro-negra, para que o Vasco não viesse a conquistar o campeonato invicto.
            O Estádio das Laranjeiras recebeu nesse dia um público recorde e existiam versões de que a polícia teve muito trabalho para conter o ímpeto da galera e que bastava apenas um torcedor do Vasco se levantar e gritar que era prontamente presenteado com uma pá de remo na cabeça, que a torcida rubro-negra levara para o estádio. Aí a briga era inevitável. Acontece que o jornal O Paiz publicou uma entrevista com o delegado Aloysio Nava, que comandou a segurança no estádio, onde ele dizia que foi tudo uma tranquilidade: “O jogo foi fértil em ensinamentos de disciplina por parte dos litigantes, não houve um só deslise, consequência natural da assistência, que se portou igualmente à altura”.
O Flamengo formou com Iberê, Penaforte e Telefone; Mamede, Seabra e Dino; Sidney Pullen, Candiota, Nonô, Junqueira e Moderato. O time do Vasco foi escalado pelo técnico uruguaio Ramon Platero, com Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito. O árbitro foi Carlito Rocha, que viria a ser presidente do Botafogo.
Empurrado pela torcida, o Flamengo jogou como se estivesse disputando uma final de campeonato, fazendo o primeiro gol com Candiota aos 30 minutos. Três minutos depois, Nonô aumentou o placar. Já no segundo tempo, Cecy descontou, aos 3 minutos. Mas os rubro-negros estavam impossíveis. Junqueira marcou o terceiro aos 12 minutos e Arlindo diminuiu para 3 x 2 aos 36 minutos. Os últimos minutos foram de grande tensão, mas os raçudos rubro-negros conseguiram impedir o gol de empate do Vasco, que acabaria sendo campeão, com seis pontos à frente do Flamengo, segundo colocado. Mas não foi invicto... Nonô sagrou-se o primeiro jogador flamenguista a ser artilheiro de um Campeonato Carioca, com 17 gols.

Carnaval rubro-negro. Os torcedores do Rio de Janeiro festejaram o grande feito do Fla, contra o que eles chamavam de “falta de ética desportiva” do Vasco. Mesmo impondo um profissionalismo "por debaixo dos panos" e até conquistando o campeonato, o time da colônia portuguesa viu o Flamengo ser mais exaltado que ele.
No livro A Nação, Marcel Pereira conta que a festa foi grande:
“Toda a cidade soube, sem rádio, sem nada, na mesma hora, que o Flamengo tinha vencido. E como era o Flamengo, esperou-se pelo carnaval rubro-negro. Estava tudo preparado. Organizou-se um cortejo de automóveis enorme, mais de cem carros com bandeiras do Flamengo cobrindo os capôs. As capotas arriadas, os jogadores sentados em cima, torcedores de pé nos para-lamas. O itinerário era: Praia do Flamengo, Glória, Largo da Lapa, Avenida Mem de Sá, Rua Evaristo da Veiga, Avenida Rio Branco, Praça da República, Rua Visconde de Itaúna e Praça Onze, passando pela cervejaria Vitória, onde os torcedores vascaínos gostavam de fazer suas comemorações. Durante toda a noite o Flamengo festejou o triunfo. E, de madrugada, penduraram um tamanco de dois metros e meio, roubado de uma tamancaria na Rua do Catete, na porta da sede do Vasco, na Santa Luzia. Como se não bastasse, foram para a Glória e enfeitaram a estátua de Pedro Álvares Cabral com colares, como de baianas, feitos de réstias de cebola”.

            Durante o campeonato, houve um fato que ficou marcado na história do clube. Na partida disputada em 19 de agosto, contra o São Cristóvão, o Flamengo vencia por 2 x 1, quando o goleiro Amado foi violentamente atingido por um chute no abdômen. Sem condições de continuar na partida, Amado deixou o gramado. Como não podiam ser realizadas substituições, Dino, que atuava no meio de campo, foi para o gol e, com atuação destacada, não deixou nenhuma bola entrar. Foi a primeira vez na história do clube que um jogador da linha foi para o gol.

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